sábado, 20 de dezembro de 2008

“LIÇÃO BÁSICA DE LÓGICA”

Tendo notado uma “pequena” deficiência de meus colegas universitários, quanto à lógica básica, estarei lhes dando uma noção do erro que costumam cometer, quase que diariamente. Vamos lá, a árdua, mas necessária, lição.
Quando alguém ataca, no campo intelectual, um individuo ou grupo não está automaticamente defendendo o seu contrario. Farei uma pequena equação, visto que os universitários adoram equações. Sendo A diferente de B, ao se atacar A não se está defendendo B, a não ser que B seja citado, direta ou indiretamente. E ainda, se A é o inverso de Z, quando se defende A é possível que se esteja a atacar Z e vice-versa, mas não automático esse ataque!
Mais claramente, quando se ataca as FARC não está se defendendo o Presidente Uribe ou a “Política dos EUA”, está se atacando um grupo de narco-guerrilheiros, que vem envenenando a America do sul com suas drogas, e pronto. É claro que em alguns casos o autor pode, repito, pode estar defendendo o Uribe, a “política dos EUA”, a galinha da vizinha ou seja lá o que for, mas não obrigatoriamente!
O maniqueísmo com que são tratados todos os assuntos pela maioria das pessoas é um simplismo porco de quem não quer pensar. É bem mais fácil levar as coisas no “quem não é aliado é Talibã” do que tentar analisá-las. Bom, espero que essa lição básica tenha servido para que alguns “colegas” compreendam o que é a lógica. Se não, me enviem um e-mail que posso dar mais dicas, mas, por favor, não façam com que eu tenha que me repetir, detesto isso.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Só por preguiça.

Essa semana tinha muita coisa para fazer( maldito exame de Medieval!!!), isso aliado a
pura preguiça não me deixou escrever nada. Mas não deixarei meus milhares de fãs(heheheheheheh) sem ter o que ler.(Nem deixarem aqueles que não gostam do que falo sem o que lhes encomodar).

A elite que virou massa

Em 1939, Eric Voegelin observava que as condições essenciais para a democracia, tal como haviam sido concebidas no século XVIII, já não existiam mais. De um lado, a economia e a administração pública tinham se tornado tão complexas que o cidadão comum já não preenchia as condições mínimas para formar uma opinião racional a respeito: sua razão refluíra para o círculo estreito das atividades profissionais e familiares, deixando suas escolhas políticas à mercê de apegos emocionais, desejos pueris, sonhos e fantasias que o tornavam presa fácil da propaganda totalitária. De outro lado, as novas classes surgidas na sociedade moderna – o proletariado urbano, o baixo funcionalismo público, os empregados de escritório – eram bem diferentes dos pequenos proprietários que criaram a democracia iluminista: eram exemplares do “homem massa” de Ortega y Gasset, menos inclinados à busca da independência pessoal do que a confiar-se cegamente à mágica do planejamento estatal e da disciplina coletiva. Tudo, no mundo, convidava ao totalitarismo.

Passados setenta anos, a composição da sociedade tornou-se ainda mais vulnerável à manipulação totalitária. O advento de massas imensas de subempregados, dependentes em tudo da proteção estatal, somada à destruição da intelectualidade superior por meio da transformação global das universidades em centros de propaganda revolucionária, reduziu praticamente o eleitorado inteiro à condição de massa de manobra. As conseqüências disso para a democracia foram devastadoras:

1. A quase totalidade dos eleitores já nem tem idéia do que possa ter sido a independência pessoal, e aqueles que ainda sabem algo a respeito estão cada vez mais dispostos a abdicar dela em troca da proteção governamental, de benefícios previdenciários, etc.

2. A defesa das liberdades públicas e privadas tornou-se irrelevante. A mística do “planejamento” apossou-se de todas as consciências ao ponto de que o que resta de debate público ser hoje nada mais que o confronto entre diferentes – e em geral não muito diferentes – planos mágicos.

3. A possibilidade mesma de iniciativas sociais independentes foi praticamente eliminada, na medida em que a regulamentação das ONGs as transformou em extensões da administração estatal e em instrumentos de manipulação das massas pela elite iluminada e bilionária.

4. A “liberdade de opinião” tornou-se apenas a liberdade de aderir a distintos ou indistintos discursos de propaganda pré-moldados. O exame racional da situação tornou-se virtualmente incompreensível, sendo marginalizado ou absorvido, malgré lui, em algum dos discursos de propaganda existentes.

5. A implantação de políticas de controle totalitário – da economia, da cultura, da religião, da moral, da vida privada – mostrou-se plenamente compatível com a subsistência do processo eleitoral formal, hoje tido como suficiente para conferir a uma nação o título de “democracia”. Com esse nome ou o de “democracia de massas”, a ditadura por meios democráticos tornou-se praticamente o regime universal.

6. Restringir o uso da racionalidade às atividades profissionais imediatas, abandonando as escolhas políticas à mercê de sonhos e desejos irracionais, deixou de ser um hábito limitado às classes populares. As próprias “elites”, hoje em dia – empresários, militares, jornalistas e formadores de opinião em geral – são tão dependentes de propaganda, slogans e imagens ilusórias, tão incapazes de um exame realista do estado de coisas, quanto os empregadinhos de escritório de que falava Eric Voegelin. Se um analista político lhes dá fatos, razões, diagnósticos fundamentados e previsões acertadas, a “elite” se sente mal. Ela não se ofende quando você lhe sonega a verdade, como ocorreu no caso do Foro de São Paulo ou da biografia de Barack Hussein Obama, mas quando você lhe conta alguma verdade que divirja das pseudocertezas estereotipadas da mídia popular, hoje investida de autoridade pontifícia. A elite, em suma, tornou-se massa – e, como massa, não quer conhecimento, visão, maturidade: quer aquele reconforto, aquele amparo psicológico, aquelas ilusões anestésicas que os manipuladores totalitários jamais deixarão de lhe fornecer.

O exercício da razão, hoje, é um privilégio dividido entre os grandes planejadores estratégicos e engenheiros comportamentais, que por motivos óbvios não pensariam em partilhá-lo com ninguém mais, e os estudiosos independentes que tentam em vão partilhá-lo com quem não o deseja.

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 1 de dezembro de 2008