quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

“Sobre meninos e lobos”

“O veneno, assim como o fogo, é dado apenas aos adultos manipular. As crianças normalmente o temem, e com razão”
Essa foi minha resposta a um amigo que vem dizendo que estou “venenoso” demais em meus textos e comentários. Ele também disse que minha afirmação era clichê, não concordo. Mas mesmo que seja ainda assim gostei dela, e também tenho direito a ser clichê de vez em quando.
Creio que o problema na verdade não seja o meu excesso de veneno, mas sim a completa “anemia” e o tom ameno e conciliador da maioria das pessoas que costumamos ler. Meu amigo Fabiano, muito embora eu não costume concordar com suas idéias, quando ataca costuma expor todo seu “veneno”. Um apena que na maioria das vezes ele mais defenda do que ataque e se perca na divagação de textos gigantescos. Por outro lado meu amigo Diego, o oposto eqüidistante do Fabiano, mais ataca que defende, muito embora sempre defenda seus princípios, tem uma ótima capacidade de síntese em seus textos os quais são carregados do “veneno divino” do sarcasmo.
Quando tratamos de assuntos como os que são tratados em meu blog, e nos blogs dos colegas, o “veneno”, a malicia, e o tom irônico são o tempero indispensável para acriação da celeuma sobre o assunto, e para que a discussão não caia no nível de conversa “água morna” ou do “papo insosso” de senhoras de meia idade sobre a novela das 20:00.
Quem teme o veneno é porque teme morrer por causa dele. Um adulto sabe que só morrerá se bebê-lo. Já as crianças... Bom, que nos importam as crianças? Que aprendam a limpar a bunda antes de vir falar de venenos.

APÊNDICE:

Demorei um pouco a postar esse texto e nesse meio tempo em algumas conversas, inclusive com uma professora que participava do programa da rádio universitária “paralelo 30”, programa que participo como convidado às vezes, cheguei a mais uma conclusão, a de que esse medo do “veneno” é um pavor instintivo da discussão, do debate, da argumentação lógica.
Não somos ensinados a praticar tais atividades e somos “adestrados” a concordar. Concordar com a família, com os professores, com o estado, com a opinião pública, em suma concordar com qualquer um que saiba articular mais de duas frases sem gaguejar (sem demérito aos gagos). E qualquer um que se negue a concordar, seja por rebeldia adolescente, que logo acabará em apatia e na tendência a trabalhar como funcionário público, seja por uma maior sensibilidade interior ou por um espírito belicoso por natureza, que o levará a escrever pelo resto da vida sobre esses assuntos mesmo que nunca venha a ser lido ou levado a sério, é chamado de venenoso, maluco entre outras ofensas que vão da duvida da sanidade a duvida da sexualidade do escritor. Sobre as reações das pessoas quanto ao “veneno” uma boa citação seria a que passarei a lhes mostrar agora ela foi retirada do livro “o Imbecil Coletivo” de Olavo de Carvalho.

NOTA À SEGUNDA EDIÇÃO

Certas reações a este livro, ultrapassando a taxa de imbecilidade média prevista, tiraram do autor qualquer dúvida que ele porventura ainda tivesse quanto à credibilidade da tese aqui
defendida, segundo a qual alguma coisa nos cérebros dos nossos intelectuais não vai bem. Primeiro foi o Paulo Roberto Pires que, não gostando deste livro, inventou outro e escreveu sobre ele em O Globo, jurando que era este. Depois vieram André Luiz Barros, Gerd A. Bornheim, Muniz Sodré, Emir Sader e Leandro Konder, que, reunidos numa página do JB de 4 de setembro, nada dizendo do livro, emitiram estes pareceres a
respeito da pessoa do autor: Não é nem homem. É um bestalhão. Não vou servir de
degrau para uma pessoa dessas. É covarde. Se apóia no poder econômico. É direitista. Não tem nem diploma.
Diante de tais perdigotos, só resta ao acusado acrescentar à sua tese as letrinhas fatídicas:
C. Q. D.

Detalhes da demonstração o leitor poderá obter no suplemento que reúne nas páginas finais do presente volume as respostas do autor a essas e outras criaturas inquietas que, à simples
audição da palavra “imbecil”, logo saíram gritando: “É comigo!” e manifestando o desejo incontido de dar com a cara na mão do autor. O suplemento destina-se a pedir a essa parcela
do público que se acalme e aguarde na fila, pois, não havendo escassez de carapuças na praça, não há também motivo de afobamento.
OLAVO DE CARVALHO
O Ministério da Saúde adverte:
O Imbecil Coletivo faz mal aos imbecis individuais.