domingo, 27 de dezembro de 2009

"MORRE UMA ILUSÃO"



Lidio Lima


Acho que deveria encarar de maneira positiva o que me aconteceu nesse fim de 2009, porque perder uma ilusão deveria nos deixar feliz, não? A não ser que você seja um relativista, para o qual realidade e ilusão são termos intercambiáveis, por nenhum dos dois existir objetivamente ou um idiota que prefere “viver” em meio a sonhos enquanto os ratos roem seus dedos. Quando se pode encarar a realidade, por mais desagradável que ela se ponha perante nossos olhos, se tem a possibilidade de lidar com a verdade, ao invés de continuar mergulhado em sonhos, que não levarão a nada, fora a mediocridade, o autismo auto infligido e por fim a autopiedade ao ver que nada se fez no decorrer de anos. Bom, acho que devo desde já desnudar a questão pela qual venho escrever esse texto, qual foi a ilusão da qual me desfiz, qual o véu deixou de cobrir meus olhos. Demorei três anos, mas acabei por ver o que já tinha “farejado” algumas vezes, mas a teimosia me impedia de aceitar. Descobri no que a universidade se tornou.
Mas antes de contar no que ela se tornou vou lhes dizer como era a minha ilusão. Eu tinha aquela visão romântica de que a universidade era um lugar de criação de conhecimento, de debate, de ciência, de lógica e de multiplicidade. Eu estava enganado.
Não sei se em alguma era, há muito perdida, a universidade foi o canteiro do conhecimento, de onde germinaram as mentes dos pensadores livres, dos grandes teóricos, filósofos e criadores, mas hoje o que se vê é só miséria, teórica e criativa. O ambiente acadêmico tornou-se o império da bajulação, do “Quem-Indique”, da dissimulação, do “li mil livros e não entendi nenhum”, do rir-se diante da realidade nefasta, do achismo e do palpite.
A universidade tornou-se uma ilha de teoria cercada de realidade por todos os lados. Seus habitantes, em sua maioria, temem se distanciar dela por muito tempo ou por longas distancias, pois podem ter seus pequenos navios de ilusão abalroados por algum corsário do objetivismo, lhes deixando em pedaços a boiar na vida real, que eles temem tanto.
Claro que faço uma generalização, visto que “nada seja tão ruim que não possa piorar”. É lógico que há lugares, dentro do ambiente acadêmico, em que ainda vive o espirito da universidade, lugares que ainda não se entregaram “a letra morta”. Porém sua quantia é tão ínfima, que se perdem em meio a essa multidão de nadas. São quase como ordens secretas do medievo, não apenas por seu numero reduzido e por sua procura de alguma verdade, mas também por serem, no mais das vezes, perseguidos.
De inicio é triste perder uma ilusão, matar um sonho é quase tão triste como ver morrer um amigo de longa data, no entanto ao notar que esse sonho nos desviava do caminho certo, da procura da verdade, começa-se a ver que deveríamos nos jubilar e não chorar pela morte dessa sombra da realidade. Ou a matamos e nos tornamos livres ou seremos meros sonhadores que seguem regras arbitrarias criadas por mentes tacanhas. Espero que nesse ano que se aproxima nos tornemos mais livres e possamos criar meios para que a universidade volte a ser o que um dia foi, o lugar em que a chama da verdade e da liberdade nunca se apaga.